Maria Quitéria

“A Independência foi obra coletiva.

Um novo mundo estava para nascer, mas o velho mundo teimava
em sobreviver… poderosamente instalado no escravismo, na
desigualdade de riquezas e na exclusão da maioria do povo dos
benefícios do progresso que viria com a vigência do novo. O mundo
velho resistia no preconceito, no desprezo ao trabalho manual, na
discriminação por motivos de cor, de crença ou de gênero.
Ao decidir incorporar-se às tropas rebeldes, Maria Quitéria
revela um profundo desejo de mudança e um desafio aos
valores vigentes que encerrava um risco pessoal. (…)

“M

        as a vitória, com o fim do conflito, implicou
na restauração da ordem. Todos retornaram à
função e ao papel que lhes cabia:
o senhor ao mando,
o comerciante ao lucro,
o político ao cargo e suas vantagens,
o artesão ao seu ofício,
o lavrador à sua roça,
a mulher à sua tarefa doméstica e,
na base de tudo isso,
o escravo ao seu trabalho.
Tudo isso em nome das exigências da nova ordem.
E nesta nova-velha ordem,
não poderia haver lugar para Marias Quitérias. 

    – István Jancsó

Apesar do sucesso da nossa montagem
de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS,

não nos agradava ver a peça colocada no nicho “para escolas”. Além disso, por ser um romance de domínio público, a sua inclusão na lista de livros da FUVEST fez com que aparecessem várias montagens da obra de Machado de Assis.

Decidimos mudar a linha de trabalho, sem abandonar
o público estudantil que já havíamos conquistado. Iniciamos uma reflexão sobre as omissões da nossa história oficial e o espaço mínimo dedicado às mulheres neste processo.

Conversamos sobre
Bárbara Heliodora

poucas vezes mencionada na Inconfidência Mineira e sobre Maria Quitéria, uma mulher que teve de se passar por homem, para poder lutar nas guerras da Independência na Bahia.

Vitoriosa, ela foi agraciada com uma medalha de reconhecimento oficial. Mas, como tantos heróis
e heroínas populares, foi esquecida e abandonada
à própria sorte, morrendo quase cega, sozinha e
na miséria.

A personagem nos foi apresentada por Marici Salomão,

em seu processo de pesquisa e criação dramatúrgica. Nós resolvemos montar
a peça e chamar Fernando Peixoto para dirigi-la. Foi a primeira montagem profissional
de um texto de Marici.

Antecipando em 200 anos as discussões de gênero travadas atualmente, Maria Quitéria escancara uma ambiguidade de identidade que ajuda a iluminar algumas contradições brasileiras. O país se libertou do domínio colonial, sem se livrar da escravidão, da miséria e da ignorância. O Brasil não vive rupturas profundas, mas acomodações sucessivas que não alteram suas estruturas desiguais que reproduzem incessantemente os privilégios de uns poucos sobre muitos.

A peça obteve recursos da Lei Rouanet-TELESP.

Ficha técnica

Texto: Marici Salomão 
Consultoria: István Jancsó e Fernando Novais.
Direção: Fernando Peixoto 
Assistência de direção: Ângelo Brandini 
Figurinos e cenografia: Carlos Colabone
Adereços: Luís Rossi 
Trilha sonora : Tunica
Iluminação: Simone Donatelli 
Técnicos: Jackson Kloch, Maurício de Almeida Junior e Joaz Ferreira.
Administração: Sonia Botture, Jair Aguiar e Roberto Mars Junior
Elenco: Suia Legaspe, Beto Amorim, Graça Berman, Antonio Netto, Airton Renô, Débora Dubois, Igor Kowalevsky e Luana Costa. 
Ator que também fez a peça: Klaus Novais
Fotos: Alexandre Diniz
Temporadas: de 19/08 a 19/11/1997, às 3ª e 4ª feiras, 21h, no Teatro Itália.
Público/Sessões: 3.220 pessoas em 33 sessões. 
Coordenação da Cia. Letras em Cena: Graça Berman e Suia Legaspe
In memoriam: Antonio Netto, Jair Aguiar, Carlos Colabone, Luís Rossi, István Jancsó,
Tunica, Fernando Peixoto e Roberto Mars Jr.

MARIA QUITÉRIA - teaser

MARIA QUITÉRIA - peça completa

Maria Quitéria

“A Independência foi obra coletiva.

Um novo mundo estava para nascer, mas o velho mundo teimava em sobreviver… poderosamente instalado no escravismo, na desigualdade de riquezas e na exclusão da maioria do povo dos benefícios do progresso que viria com a vigência do novo. O mundo velho resistia no preconceito, no desprezo ao trabalho manual, na discriminação por motivos de cor, de crença ou de gênero. Ao decidir incorporar-se às tropas rebeldes, Maria Quitéria revela um profundo desejo de mudança e um desafio aos valores vigentes que encerrava um risco pessoal. (…)

“M

          as a vitória, com o fim do conflito, implicou na restauração da ordem. Todos retornaram à função e ao papel que lhes cabia: o senhor ao mando, o comerciante ao lucro, o político ao cargo e suas vantagens, o artesão ao seu ofício, o lavrador à sua roça, a mulher à sua tarefa doméstica e, na base de tudo isso, o escravo ao seu trabalho. Tudo isso em nome das exigências da nova ordem. E nesta nova-velha ordem, não poderia haver lugar para Marias Quitérias.”

    – István Jancsó

Apesar do sucesso da nossa montagem de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS,

não nos agradava ver a peça colocada no nicho “para escolas”. Além disso, por ser um romance de domínio público, a sua inclusão na lista de livros da FUVEST fez com que aparecessem várias montagens da obra de Machado de Assis.

Decidimos mudar a linha de trabalho, sem abandonar o público estudantil que já havíamos conquistado. Iniciamos uma reflexão sobre as omissões da nossa história oficial e o espaço mínimo dedicado às mulheres neste processo.

Conversamos sobre
Bárbara Heliodora

poucas vezes mencionada na Inconfidência Mineira e sobre Maria Quitéria, uma mulher que teve de se passar por homem, para poder lutar nas guerras da Independência na Bahia.

Vitoriosa, ela foi agraciada com uma medalha de reconhecimento oficial. Mas, como tantos heróis e heroínas populares, foi esquecida e abandonada à própria sorte, morrendo quase cega, sozinha e na miséria.

A personagem nos foi apresentada por Marici Salomão,

em seu processo de pesquisa e criação dramatúrgica. Nós resolvemos montar a peça e chamar Fernando Peixoto para dirigi-la. Foi a primeira montagem profissional de um texto de Marici.

Antecipando em 200 anos as discussões de gênero travadas atualmente, Maria Quitéria escancara uma ambiguidade de identidade que ajuda a iluminar algumas contradições brasileiras. O país se libertou do domínio colonial, sem se livrar da escravidão, da miséria e da ignorância. O Brasil não vive rupturas profundas, mas acomodações sucessivas que não alteram suas estruturas desiguais que reproduzem incessantemente os privilégios de uns poucos sobre muitos.

A peça obteve recursos da Lei Rouanet-TELESP.

Ficha técnica

Texto: Marici Salomão 
Consultoria: István Jancsó e Fernando Novais.
Direção: Fernando Peixoto 
Assistência de direção: Ângelo Brandini 
Figurinos e cenografia: Carlos Colabone
Adereços: Luís Rossi 
Trilha sonora : Tunica
Iluminação: Simone Donatelli 
Técnicos: Jackson Kloch, Maurício de Almeida Junior e Joaz Ferreira.
Administração: Sonia Botture, Jair Aguiar e Roberto Mars Junior
Elenco: Suia Legaspe, Beto Amorim, Graça Berman, Antonio Netto, Airton Renô, Débora Dubois, Igor Kowalevsky e Luana Costa. 
Ator que também fez a peça: Klaus Novais
Fotos: Alexandre Diniz
Temporadas: de 19/08 a 19/11/1997, às 3ª e 4ª feiras, 21h, no Teatro Itália.
Público/Sessões: 3.220 pessoas em 33 sessões. 
Coordenação da Cia. Letras em Cena: Graça Berman e Suia Legaspe
In memoriam: Antonio Netto, Jair Aguiar, Carlos Colabone, Luís Rossi, István Jancsó,
Tunica, Fernando Peixoto e Roberto Mars Jr.

MARIA QUITÉRIA - teaser

MARIA QUITÉRIA - peça completa